segunda-feira, 29 de junho de 2009

Profissão infância

Pindaúva, 268. Moradia do formigário, das batidas na parede do quarto e dos bilhetes trocados por cima do muro. A excitação do aguardar o que vinha escrito nos bilhetes só não ganhava do incômodo daquela que via suas roupas limpas receberem a mais pura sujeira acumulada. O incômodo era imperceptível quando rindo brincava-se de desenhar com o azeite no prato de sopa batida...Hummm....o cheiro da sopa!! O cardápio era variado, pois quem se esquece do milho que era raspado no prato quadrado e verde?! E o bolo com recheio de geléia assado no mais tecnológico dos fornos a lâmpada? Às vezes o susto era tamanho que somente um prato de biscoitos de nata em formato de coração para amenizar...Mas, na Pindaúva, 268, não havia apenas travessuras culinárias, havia as festas temáticas com direito ao Fashion Week anos 80! Juntamente com a pêra sorridente encontrava-se o vestido emprestado da prima! Ícone dos anos 80, não? Não era surpreendente as "janelinhas" nos sorrisos de quem desfilava os modelos ( e os telhados e travesseiros aguardavam ansiosos as fadinhas dos dentes!!)...Com dentes a menos, diversão garantida mesmo era ignorar o irmão mais novo nas brincadeiras. Ah, que delícia a superioridade das irmãs mais velhas! Sempre que possível ali estavam, fosse no murinho da frente ou no quintal dos fundos. E que tal uma passagem secreta no porão? Ah, pai, vai, deixa, vai!! Ao menos iríam economizar na conta de telefone, ué! Pois horas montando o mundo da Barbie não eram suficientes, seriam preciso inúmeras geladeiras, salas, copas...Afinal, o local era o que menos importava: os degraus da Cidade Universitária bastavam. As profissões também podiam se diversificar, desenhar a arquitetura do Barbie World ou atuar como detetives profissionais? O escritório podia ser na janela do quarto da frente e o investigado, o vizinho da frente, não havia problemas, apenas registros nas páginas de agendas que mal fechavam. Mas, o que realmente não fecham são os dias e horas sabiamente aproveitados pelas modelos que de biquínis brincavam de lojinha. Hoje a moda pode ser do ano 2000, a cozinheira dos biscoitos pode não mais cozinhas frequentar, a superioridade das irmãs mais velhas pode ter se perdido frente a altura dos caçulas, a sopa pode não ter mais o azeite, mas as lembranças ainda têm o cheiro da Pindaúva, 268.

sábado, 4 de abril de 2009

Será que..?

A autoria alguns dizem ser de Miguel Falabella, tenho cá minhas dúvidas, enfim...algumas frases serão conhecidas, outras nem tanto...ou serão?

Trancar o dedo numa porta, dói.
Bater o queixo no chão, dói.
Dói morder a língua, cólica dói (e muito!!), dói torcer o tornozelo.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, cárie dói, sinusite dói, Melissa apertada também dói.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um avô que mora longe.
Saudade de uma brincadeira de infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade dos almoços de domingo.
Saudade de uma voz que não se escuta mais.
Saudade de nós mesmos, o tempo não perdoa.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se gosta.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar em uma casa e ele noutra, sem se verem, mas sabia que estava lá.
Você podia ir para a terapia e ele para a trabalho, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando as dúvidas surgem
Sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber se ele continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua fazendo a barba na sauna para não irritar a pele.
Se aprendeu a ter calma no trânsito.
Se continua preferindo maionese e cebolinha no Temaki.
Se continua sorrindo com aqueles olhos apertados.
Será que continua saindo da academia sem comer nada?
Será que continua adorando a costela do Outback e ela o Baby Back Burguer do The Fifties?
Será que ela continua não prestando atenção no carro,e ele cada vez mais?
Será que ele continua não gostando de sucos com polpas,e ela não entendendo Matrix?
Será que ele continua gostando de filmes de ação,e ela de Sexy and the City?
Será que ela continua assistindo aos episódios de Friends?
Será que ele continua coçando compulsoriamente o nariz toda vez que a rinite ataca?
Será que ela continua sem comer chocolate?
Saber é não saber mesmo!!!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais longos, não saber como encontrar
respostas da maneira mais rápida.
Não saber como frear o pensamento diante de uma música, não saber como vencer um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com outra, e ao mesmo tempo querer.
É não querer saber se ele está mais magro, se ele está mais belo.
Saudade é não mais saber de quem se gosta e ainda assim doer.
Saudade é o que se sente muitas vezes com a distância que se pede para ter, é o que sente buscando respostas para perguntas que a vida insiste em mudar a cada momento...

domingo, 15 de março de 2009

Quando?

O texto abaixo me foi enviado exclusivamente para o blog. Sendo assim, com prazer...aqui está ele, de autoria de Sérgio Bruno:

A palavra Quando é um advérbio que serve para realizar introdução de perguntas relativas ao tempo. Vocês já perceberam como esta palavra esta presente em nossas vidas?
Na infância a primeira pergunta que se faz é. Quando será que ele(a) vai falar? Quando começamos a engatinhar vem a pergunta. Quando ele vai começar a andar? Na adolescência a palavra aparece numa afirmação clássica da mãe quando não deixa você ir em algum lugar. Quando eu for adulto eu faço!
No começo de um relacionamento, a primeira pergunta é Quando vão ficar noivos? Depois de ficarem noivos vem a pergunta. Quando vão se casar? Depois do casório, vem a pergunta Quando vocês vão ter o primeiro filho? E assim vai...
Depois de vencida uma etapa na vida, sempre aparece alguém para colocar um QUANDO na vida.
Sempre temos um quando que ainda não foi respondido e o mais engraçado é que geralmente a resposta depende de outras pessoas e eu me pergunto. Quando a resposta vai chegar?

segunda-feira, 2 de março de 2009

Entrar ou sair?

Muito mais fácil do que andar nos trilhos é sair dos trilhos.
Muito mais fácil do que a certeza do que se quer é a dúvida pelo não querer....
A prepotência humana está em achar que se sabe as respostas, que se tem as certezas e o caminhos corretos. O tempo nos ensina, e parece cruelmente nos mostrar, que os caminhos são feitos de momentos, momentos estes que podem não ser tão rápidos como um piscar de olhos, mas têm começo meio e fim como cada uma de nossas piscadas...
Momentos que podem fazer com que a mais doce das pessoas pareça a mais fria das criaturas, momentos que podem intensificar com simples palavras uma decepção, momentos que podem transformar a mais pura certeza na maior dúvida existente. Por pertencemos à raça humana ainda acredito que podemos escolher entrar ou não nos trilhos, mas uma vez dentro é inevitável o momento da saída.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Segundos coloridos

Cuidar do jardim para que venham as borboletas! Frase que denota um feito simples e fácil, certo?
Ah...como é gostosa a simplicidade das palavras! Mas, sobre esse jardim muitas vezes o sol é escaldante e a chuva tenebrosa. A terra parece estar seca demais ou úmida demais, a primavera parece perder a vez para o que demonstra ser o verão, o outono e o inverno interminável....
O que faz parte desse jardim? Os que já visitei são feitos de valores, premissas, crenças, amores, dores, frustrações, dificuldades, risadas, lágrimas, abraços, angústias, medos, realizações, decepções, paixões, encantamentos, tristezas, mágicas, alegrias, mentiras, verdades, sucessos, fracassos. Ainda parece uma tarefa simples cultivar esse jardim?
E as esperadas borboletas, de que cores são? De que tamanhos são? Arrisco dizer que são perguntas muitas vezes sem respostas.
Em grego antigo borboleta diz-se Psyché, ou seja, alma. Por sair do casulo ao nascer, a borboleta é o símbolo da alma imortal...Já me peguei pensando que borboletas apenas pousam...por alguns segundos, se tivermos sorte por alguns minutos.
São minutos por uma primavera inteira! São segundos por uma vida inteira!
É a espera ansiosa pela visita repentina, pelo colorido de um bater de asas, pelos segundos que validam o cultivo daquele jardim...

Geografia natalina

Não é de hoje que as pessoas questionam o real significado do Natal. Não é de hoje que os comerciantes esperam ansiosos o último mês do ano para o recorde de vendas. Porém, também não é de hoje que o socialmente aceito é o “Natal em família” e o “Ano Novo com os amigos”.
Tomo a liberdade de questionar: o que é o Natal em família? É o da propaganda da margarina Qualy? Novamente ousando com minhas definições, digo que o Natal em família é aquele que me ensinaram a celebrar toda véspera do dia 25 de dezembro. É aquele em que o que se espera são as tradições construídas, tradições estas que se reeditam a cada novo ano, a cada nova foto com novos componentes e novas ausências. Pode ser a tradição da salada de bacalhau, da porção de bolo de nozes sem uva passas, ou quem sabe a tradição do primo mais velho em estourar a champagne?
O Natal em família tem sabor de lombo trançado com manjar branco de sobremesa. O Natal em família implica no lugar certo no sofá para receber os presentes que finge-se não esperar. Natal em família é o agradecimento “escondido” para aquela que pacientemente escolhe os presentes que serão calmamente entregues aos netos, filhos, cunhados. Natal em família é ter a certeza que dentre todos haverá o presente do rancho, embora este possa não ter mais essa configuração para quem o faz sempre terá para quem o recebe. Natal em família é escutar um a um os nomes serem repetidos na sala por diferentes vozes, porém com as mesmas intenções. Natal em família é ainda disputar a atenção de todos com a prima mais velha, mesmo sabendo que o mundo lá fora já não é mais tão cor-de-rosa como a casa da Barbie. Natal em família é esperar no quarto ouvir a voz do churrasqueiro no dia seguinte para só assim acordar na mesa do almoço. Natal em família é rir com a mesma intensidade e espontaneidade independente da idade, é encontrar no olhar de cada um a cumplicidade das histórias vividas, das broncas e castigos divididos entre os primos.
Uma coisa eu afirmo, a ansiedade dos comerciantes não se compara a ansiedade em se diminuir a distância entre Araras, Ribeirão Preto, Salto, São Paulo, Santo André, Bragança Paulista, São Carlos, Campinas...