quarta-feira, 28 de março de 2012

E no meio do dia..

Ser filha mais velha muitas vezes implica em ser surpreendida pelos irmãos mais novos de uma maneira indescritível. Sou a filha mais velha de 3 irmãos, um de 25 anos e uma irmã de 10 anos (irmã por parte de pai apenas). Com o falecimento da minha mãe, há 13 anos, a vida fez um curso atípico, marcando momentos de pura emoção, crescimento e aprendizado.
Nessas horas ser a irmã mais velha pode implicar muitas vezes em ocupar lugares não tão espontâneos, como o de mãe do irmão mais novo, irmão que na época do falecimento tinha apenas 13 anos. E foi assim, que vínculos foram sendo construídos, estreitados, amolecidos. Afinal, ter 5 anos a mais do que o irmão nos coloca no degrau de cima, não? Ih, será que não? Enfim...
Mas, as histórias foram sendo construídas e vividas de maneira que aos poucos cada um conseguiu ocupar seu velho lugar novamente, aquele lugar mais confortável, mais conhecido, lugar em que bom mesmo é brigar pela bagunça feita na sala ou bagunça feita no quarto. Lugar de simples irmãos...
Vivíamos assim, eu, meu irmão mais novo e meu pai.
Foi quando dois anos atrás, esse irmão mais novo, que um dia foi uma espécie de filho, resolve mudar com a namorada para o interior de São Paulo, 400km de distância. Sua mudança para o interior se deu 4 meses depois do nosso pai também se casar novamente e sair de casa. Ou seja? A irmã mais velha aqui de repente passou a morar sozinha. Mas, digo que tirando a saudade apertada, que deixou um buraquinho no coração, foi bom. A vida continuou seu curso e em novembro do ano passado me casei.
Contudo, inesperadamente, há 1 mês um telefonema no meio do dia no escritório me mostra que o irmão mais novo cresceu mesmo, que uma nova história se inicia:
Ele: Oi, tudo bem?
Eu: Oi cabeça! Que saudades! Tudo jóia e com você?
Ele: Beleza, tudo bem...tá muito calor aí? (acho que era o momento de ensaiar como falar e a única saída, e mais conhecida, era falar do tempo)
Eu: Mais ou menos, nada insuportável. E aí, derretendo de calor?
Ele: Tranquilo, sussa... (segundinhos de silêncio)
Eu: Aproveitando, e a nossa viagem do fim do ano? (tínhamos planejado uma viagem eu, meu marido, ele e a namorada para dezembro deste ano) Precisamos começar a ver logo para não ficar em cima da hora...
Ele: Então, acho que não vai rolar mais...tenho uma coisa pra te contar...
Eu: Aconteceu alguma coisa? (meio preocupada já)
Ele: Então...Você vai ser tia!
Eu: Hã? O que? Como assim? Que?
Ele: Pois é, vai ser tia, a Alê está grávida..
Eu (chorando, claro): Ah, não acredito! Não acredito! Que emoção!
Ele, literalmente do lugar de irmão mais novo com a irmã mais velha, diz: Então, agora preciso contar pro pai, como eu faço? O que você acha que ele vai dizer?
Naquele momento foram risos soltos, misturados com alegria e cumplicidade como na época em que era pequeno e me procurava para ajudá-lo a contar para a nossa mãe que havia quebrado, chutando bola, o seu vaso de violeta predileto.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O dia que enchi o nariz de pó

Já pararam para pensar no que pode representar uma foto em branco e preto? Pois é...eu não tinha me dado conta do significado que as fotos "monocromáticas" poderiam ter até o início desta semana. Alguns acontecimentos nos fazem, como disse uma pessoa muito especial, "encher o nariz de pó". E assim me deparei com imagens impossíveis de serem descritas. Arrisco dizer que nem mesmo o mais romântico poeta conseguiria escrever com riqueza de detalhes sobre as cenas e personagens que estampavam aquelas fotos. Mas, certamente cada fotógrafo e cada personagem ali fotografado saberiam recitar com detalhes cada um dos momentos retratados. O cenário de cada figura ganharia cores, cheiros e até mesmo gosto! Cor de infância bem vivida, cheiro de brincadeira na terrinha, gosto de pão feito em casa! O tempo pode ter amarelado o que antes era branco e preto, nem todos os personagens podem estampar mais novas fotos, que agora são coloridas, porém minhas lembranças os emolduraram para sempre no cheiro, na cor e no gosto de uma história impossível de ser fotografada por qualquer fotógrafo!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Valeu a pena êh êh! Valeu a pena êh êh!

Certamente o Rappa nem poderia imaginar o significado que suas simples estrofes poderiam vir a ter. Nem desconfiam que elas estampariam uma bela faixa no interior de São Paulo representando toda uma família. Assim, reeditando emoções lanço a pergunta: qual será a emoção de assistir um filho gritar que valeu a pena? Assistir sua conquista em receber um canudo com lágrimas nos olhos? As vezes são 4, as vezes são 5 longos anos recebendo aquela visita que chega com grandes malas de roupas sujas e se despede com uma coleção de enlatados e tupperwares recheadas. Mas, sempre chega a hora de comemorar com ele, aquele que cresceu sim, aquele que um dia se apoiava em sua perna aprendendo a andar e que hoje anda bravamente no palco desfilando com sua beca e diploma em mãos. E na platéia? Ah...na platéia o amor é tamanho que falta espaço para conter as lágrimas de tanta gente, gente que esteve sempre perto, gente que voltou a estar perto, gente que mesmo não presente certamente estava por ali. As comemorações batem no compasso da emoção, emoção esta que faz com que a homenagem fique de ponta cabeça, a buzina caia da mão e até mesmo os fogos estourem de ponta cabeça. Mas, isso não atrapalha, pois a emoção contamina e continua...São homenagens que marcam o coração de cada um ali presente de uma forma diferente, como o olhar de ternura de uma mãe que acompanha sombras, pós, delineadores, batons tomarem forma nas mãos daquela que a beleza e delicadeza irradiam. Em cada sorriso e abraço trocado a emoção pulsava, transbordava. Podia ser difícil chegar naqueles metros quadrados, o nome do santo podia não ajudar, mas nada impediu que ali se reunissem gerações que por alguns momentos estiveram anos distantes. Em cada noite a emoção aumentava e borbulhava, risadas compartilhadas com lágrimas ajudavam a motorista da van a chegar mais rápido. Nem mesmo Danúbio Azul, Contos dos bosques de Viena, A Valsa do Imperador e nenhum compositor seriam capazes de traduzir em sonetos o significado daquela valsa dançada em meio a milhares de madrinhas e padrinhos. Talvez em sonho um dia seja possível traduzi-la em palavras, mas sinceramente não me arriscarei. Alguém se arrisca? Em meio a tantos acontencimentos a cumplicidade e amor se faziam presentes em cada gesto, seja pai e filho dividindo o mesmo copo de uisque e o mesmo porre, seja formando e pais dividindo olhos vermelhos, irmãos e irmãs dividindo fotos e risadas, namorados e namoradas dividindo carinhos e elogios, tio dividindo apertadamente o banco de trás do carro num ato de carinho e dedicação, tias e sobrinhas dividindo confidências e torcidas para o vestido não manchar, sobrinha e tia dividindo o segredo do bolo surpresa para os aniversários carinhosamente lembrados e comemorados...E aqueles que não mais se encontram neste mundo, por que não partilharem de cada momento também? Aqueles que certamente contribuíram, cada um em seu papel, para que cada lágrima e sorriso ali existissem, não só deveriam estar presentes como destacados de vermelho paixão! Relendo cada palavra será possível responder qual a emoção de ouvir que valeu a pena? Não arrisco, pois nem mesmo consigo responder qual a emoção de pertencer a uma família que sela cada encontro com uma delicada flor....

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Qual é o seu código de barras?

Um código de barras. Sim, é o que você precisa hoje para ser catalogado nos temas interessantes. Gostou do estande? Então posso te catalogar? Parou para ver o vídeo institucional? Então posso te catalogar? Sim, nada mais do que um código de barras, afinal basta ele para você "curtir" o evento. Será que é ser retrógado ainda gostar de um abraço, de um olho no olho? Mesmo que seja um olhar de amargura, ao menos é humano...

quarta-feira, 10 de março de 2010

Acostumando a se acostumar

As palavras muitas vezes são reagrupadas, mas o ponto de partida é o mesmo, a idéia principal é a mesma, por que não arriscar dizer que o sentimento inicial é o mesmo? Pois afinal uma forma eficaz de se expressar é o agrupamento de palavras, é o famoso "dar asas à imaginação". Pode ser de Marina Colasanti ou John Ulmoa o agrupamento, mas elas estão ali, tentando materializar o cotidiano humano (cotidiano muitas vezes parecido com o nosso, não?).
Segundo Ulmoa: " A gente se acostuma com tudo, a tudo a gente se habitua". Pois é, assim como ele me habituei ao pão light, ao salto alto e até ficar sem tv. Me acostumei sem querer. E assim como Marina Colasanti "eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia". E aqui faço uso dos agrupamentos dela, pois a gente se acostuma a morar em apartamentos maiores do que precisamos e a não ter outra vista que não as janelas de famílias ao redor. Logo se acostuma a não olhar para fora. Nem mesmo a ausência de cortinas para abrir facilita o olhar, pois a gente se acostuma.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque os cinco minutos da soneca passaram como cinco segundos. A tomar pó sabor chocolate com água no liquidificador porque poupa uma refeição, e dizem que até calorias. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A deitar tarde e acordar cedo sem ter sentido a noite.
A gente se acostuma a sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a fazer fila para pagar.
A gente se acostuma a andar na rua às pressas e nem mais perceber cartazes. A abrir as revistas sem ter tempo de ver os anúncios. A ligar a televisão para nos fazer companhia.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer, por não ter outro jeito. Em doses pequenas, tentando não perceber, vamos afastando uma dor aqui, um pensamento ali, uma revolta acolá. Se o apartamento é grande, a gente se consola pensando que há mais espaço para se espalhar. Se os cinco minutos da soneca são poucos, a gente se consola com os cinco minutos da próxima manhã. Se o pó sabor chocolate passa longe do cacau, a gente se consola pensando no frango grelhado com salada do almoço. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana chover o tempo todo a gente vai dormir cedo e ainda fica feliz porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na tristeza, para preservar a pele! Se acostuma para evitar feridas. A gente se acostuma para poupar a vida. Muitas vezes a gente se acostuma porque não tem outro jeito.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pincel, tinta, ação!

Vinicius...em belas palavras descreve nosso hoje, nosso ontem e nosso amanhã...Por que digo isso? Quem teria a sensibilidade de em alguns versos falar de começo, meio e fim em cores? De falar de vida e morte em aquarela?
Afinal numa folha qualquer você pode desenhar um sol amarelo
E com cinco ou seis retas fácil faz um castelo
Corre o lápis em torno da mão e se dá uma luva
E se faz chover com dois riscos tem um guarda-chuva
E se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel? Ué, num instante imagina uma linda gaivota a voar no céu!
Voar? Sim, vai voando, contornando a imensa curva norte-sul, você vai com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
Pinta um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vai surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar
Numa folha qualquer você desenha um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consegue passar num segundo
Gira um simples compasso e num círculo você faz o mundo! Sim você!!
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está. O futuro? Nas palavras de Moraes o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Ela não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe, sim, NINGUÉM sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá...
Então...que tal ter tinta e pincel na mão enquanto temos uma folha?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O título de Ser Humano

Reedição do Natal? Arriscaria dizer que sim..Salto, Bragança Paulista, São Paulo, Araras, Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos, enfim....novamente uma união geográfica de causar inveja a qualquer professora de Geografia. Desta vez o motivo não era comemorar o nascimento de um Ser, mas a graduação de uma das filhas Dele. Pensando no sentido literal da palavra graduação, depara-se com o que? Com um processo de formação, formar alguém para algo. E assim contemplou-se a comemoração...o comemorar daqueles que orgulhosamente formaram o caráter, a índole de um ser humano. Um ser humano que já foi pequeno, que já espalhou comida sobre a mesa, que já quebrou vasos de flores com uma simples pose para foto. O espaço escolhido para se vivenciar essa conquista tinha metros quadrados suficientes, mas a cada momento esses se tornavam menores. As risadas tomavam conta de cada canto dando vida a cada gesto. Num piscar de olhos graduados e graduandos se misturavam, e agora era a vez de filhas formarem as mães as ensinando a se maquiar, sobrinhas formarem tias as mostrando como esvaziar um colchão inflável, primos mais novos darem aula de Gestão de Carreira áquela que teoricamente responde como uma profissional da área. Um misto de geração dando significado a cada história ali presente, desenhando cada parte de uma comemoração compartilhada. Até os ausentes graduados se fizeram presentes nessa formação, presentes nas lembranças dos que nunca os deixam de lado, no anel dourado de pedras pretas que enfeitam o dedo doce, num simples pedido para uma boca vermelha de batom daqueles olhos que acalmam a alma, num olhar brilhante e sorriso cativante daquele que em pé na cozinha diz esperar sempre por novas palavras. Certamente ali estavam todos aqueles que formaram pessoas não para um primeiro título Universitário, mas para um primeiro título de Ser Humano.